Importância da cultura e de um time ágil para minha experiência como Desenvolvedora Júnior
Semana passada estava fazendo um curso e comecei a ler um livro que foi citado em uma das aulas, Creativity, Inc. Esse livro foi escrito por um dos fundadores da Pixar e fala muito sobre cultura e como ter um ambiente criativo dentro do time. Juntando ao momento reflexivo que estou, pois é minha última semana na empresa que trabalho atualmente, senti vontade de escrever sobre como uma cultura ágil e de liderança positiva foi fundamental para mim como Desenvolvedora Júnior.
Eu acredito muito que para um time ágil é necessário ter uma cultura forte de pessoas que se sentem empoderadas, não sentem medo mas sim confortáveis em conversar com a liderança, e é por isso que muitas vezes retornarei ao tópico da cultura. Antes dessa minha experiência já tinha estudado o assunto e sido parte de uma tentativa falha de Agile na empresa anterior. Falha porque uma Daily, por exemplo, reunião diária para dar updates sobre as tarefas para a equipe e falar sobre possíveis impedimentos que estamos tendo, era uma mensagem enviada para um grupo, como um pequeno relatório, em que o próprio líder da área não participava e deixava escancarada a hierarquia dentro da equipe, fazendo com que a troca que ocorre nessa reunião não acontecesse. Foi durante uma Daily que percebi que a cultura era de fundamental importância para um time Ágil e para que eu evoluísse como Júnior: eu, percebendo que toda a equipe (inclusive nosso líder) errava e contava sem vergonha que errava, passei a contar meus erros e abraçar com alegria a evolução, que para uma Júnior é muito importante.
O que aprendi com as dailies
Como já comentei anteriormente, todos os dias são realizadas reuniões curtas de mais ou menos 15 minutos em que comentamos sobre o dia anterior, o que vai ser feito no dia atual e se está tendo algum problema. As dailies iniciam nossos dias e não são momentos de “apenas mais uma cerimônia do Scrum”, mas de integração e de fortalecimento da cultura do time. Eu entrei no time como uma mulher que se sentia extremamente desconfortável ao ligar uma câmera para qualquer pequena reunião e saí compreendendo a importância de nos enxergarmos como pessoas e passando a achar estranha qualquer conversa que eu não consiga olhar a outra pessoa (mesmo que pela webcam).
Logo no início, eu tive muita dificuldade para compreender que o ambiente era seguro para erros. Foi preciso aprender observando os exemplos. Ter um líder que mostrava com exemplos concretos que a cultura era realmente essa, fez com que eu me tornasse cada vez mais confiante e não tivesse medo de falar como realmente estava o status de uma task. Passei a entender como honestidade é um fator importante dentro da cultura de uma empresa quando um sentimento que eu costumava sentir foi aos poucos sumindo até se extinguir: o medo constante de demissão.
“What is the nature of honesty? If everyone agrees about its importance, why do we find it hard to be frank?” Creativity, Inc.
Qual é a natureza da honestidade? Eu não sei. Mas hoje sei identificar o sentimento saudável que ela traz para uma equipe: a liberdade de compartilhar ideias, opiniões e críticas, mesmo como uma Júnior em início de carreira.
O que aprendi com as plannings e retrospectives
Para quem não está familiarizada com as cerimônias do Scrum, uma reunião de planejamento é realizada no início de cada sprint para organizar as tarefas com a/o Product Owner, responsável pelo produto e que sabe a ordem que elas devem entrar no backlog e porquê. Nossas sprints são curtas (1 semana), então toda segunda-feira a manhã inicia com essa reunião. E para finalizar cada sprint (no nosso caso, sextas-feiras), sempre é feita uma reunião de retrospectiva da semana, para conversar sobre o que fizemos bem e o que podemos melhorar para a próxima semana.
Durante uma retrospectiva, conversamos sobre as dificuldades que estávamos enfrentando de sair das reuniões de planejamento com definitions of done para cada uma das tarefas bem estabelecidas, o que fazia com que perdessemos tempo durante a semana para descobrir o que precisava ser feito. Dessa forma o líder da equipe apresentou a ideia de refinements das tarefas e foi definido um horário da semana para que todas as tarefas (atuais e as da próxima sprint) fossem revisadas e se não estivessem bem compreendias, era possível ir atrás do que era necessário saber sobre a task.
Em uma cultura que permite a participação de todas/os e confia naquilo que a equipe traz, a responsabilidade de perceber processos que não estão bem adequados é de toda a equipe e não apenas da liderança. Tornar processos dinâmicos, abertos à modificações quando não estão sendo tão eficazes, é uma característica importante para um time que quer melhorar a agilidade. Ter uma equipe que está sempre disposta à alterar esses processos também é de grande importância, porque nada pode ser alterado se as próprias pessoas não são adeptas dessas mudanças (ou a qualquer mudança). E isso não é algo que acontece sem esforços, para ter um grupo que tenha essa mentalidade é necessário construir isso, mostrando que a cultura não é apenas uma ideia, mas o que a equipe é e trabalha ativamente para ser.
“To ensure quality, I believed, any person on any team needed to be able to identify a problem and, in effect, pull the cord to stop the line”. Creativity, Inc.
Conclusão
“We should trust in people, I told them, not processes. The error we’d made was forgetting that ‘the process’ doesn’t have taste. It is just a tool - a framework.” Creativity, Inc.
Um time ágil não é perfeito: processos quebram e precisam ser reestruturados de acordo com a necessidade da equipe. Uma equipe nova, por exemplo, ainda está encontrando aquilo que funciona para ela, pegando frameworks existentes e alterando eles de acordo com o time. Isso leva tempo e esforço e são as pessoas que são responsáveis por essas mudanças.
Como Desenvolvedora Júnior, tive duas experiências com Agile: uma de verdade e outra de mentira. Na de mentira, a comunicação era inexistente e o medo imperava. Na de verdade, foi onde evoluí e me foi permitido errar. Me foi permitido ser Júnior.